Amanhã

por enquanto é um quase encostar
nossas línguas anunciam
vamos nos perder

Sem

canto vivo além do espelho
meus medos
vermes solitários
e solitárias
ao longe a música das rodas frias
me faz rasgar o ventre
segurar a pedra pérola dos rins
dói o barulho da tua partida
mutila o pouco do inteiro que tenho
e já não tenho

Xamã urbano

grandes cachos
mãos de bruxo
cura bronquite antes dos sete anos
mau-olhado
quebrante
seduz
seduz
seduz
acordei com o cheiro do café
passado
com a renda da minha calcinha
tá explicado

Vide Bula

Dois dedos de Naldecon
Gelo
mãnha..
...
Esquentou

Eu e Rubem Fonseca

Café-com-leite sempre depois dos crimes
perdão aos mortais !

Sorriso suino

La Gioconda
covinhas Da Vinci
quem diria ?
ela sorria
e escondia seu rabinho de porco

G

Beijos
beijos e beijos
na flor da pele

Razão

teimosa
teimo
mas nunca digo que pau é pedra

Balcão

E tinha que ser tão bonito ?
como pedir aquele remédio ?
farmacêutico
recuperei a respiração
remendei rápido

-creme para mãos suaves !

SMS

sem tempo sem tempo
apenas em hora de dizer-te
tô chegando
me espere com braços de abraços
e corinho pra trás

Caturras

desapaguei desse amor siamês
no aparte perdi meu coração
um dos olhos
tocou-me o castanho sem graça
quero meu rim de volta
estou intolerante à certas asperezas
ou é do baço,dr ?
seinão
todo dedo me dói
nenhum entra macio

pensei nas bananas
antes elas !
Macias
bananas não têm unhas

Vida de cachorro

pe(^)lo molhado no pet-shop
centrífugas para cães
coleira-forca
gaiolas e vacinas
ossos cenográficos
cadelinhas virgens

de raiva o jaguara
rasgou meu lixo
expôs minhas latas
cotonetes
e colomys babados
deprezou minha comida
não cuidou mais da casa
comeu minha gata
e o rabo alegre
não me abanou mais
nem eu o meu

ensimesmados
nós dois
parecidos com gatos
num olhar cor de bola de gude
resolvemos virar latas por aí
felizes
às ruas
cachorros que somos

Andando

de braços com o moço
passeio público
dizeres privados
num ouvido surdo
que é o meu

sorriso belo
idéias que nem sei
nem quero
e ele fala,fala
penso
sorria
cala-te
só

apresso a passo
adeus
sem mais
menos um

o que acontece ?
não daria certo
ele de peixes
eu vaca

em vermelho boi avança
fura a barriga
atira pra cima
assim morrem crianças

minha blusa e sua flor
chamando o touro para a briga
eu,distraída
não vi saída
senão ficar sem roupa
correndo nua

a cada passo
mais longe dele
o horizonte mais perto
quase toco com meus dedos..
e num golpe dessa vida
no início dela
minha lápide
me parou de joelhos no chão
olhos fechados
entre medo e lágrimas
enchi a mão
com os cabelos verdes da terra
provei do amor bruto
em chão sereno

nessa pedra
sento hoje
pra não esquecer do horizonte
que com fúria persegui

Bem-vinda

devagar é minha marcha pra casa
mangalarga
ereta e forte
só para ida

na volta
dobras da cama são frias
algodão e poliéster
me esperam há dois dias

o microondas reverbera
os 45 segundos
chá de sonhar rápido
e eu,maçanilha
que já escutei sinos
noutras madrugadas

Último almoço

casa da mãe
manhã em seu fim
báu
cupim
eu sonhando em cima

cortina da janela
varrendo meu umbigo
de sete em sete tempos

encontrei Nero
montado num cavalo de bico
crista e penas

o assoalho rangeu forte
minha mãe caiu morta
saltei do baú
alisei seus cabelos
ela também sonhava meu sonho
do Nero roubou-lhes os louros da coroa
e também o cavalo com penas brancas

partiu assim
perfumando a casa
deixando no fogo
galo com louro

Há vagas

deixaram saudades
de verdade
as tuas mentiras
tinham cheiro
cor
e horizonte

barquinho de papel
feito de jornal
o lado que molhou
no meu rio
era um classificado
em garrafais cedilhas
dizia
moÇa bonita para deitar
e fazer roÇar
minha barba em tuas virilhas
Procura-se
Mais e mais outras

Mãe pra todos

menina eu sonhava
que filho vinha em cestinho
na porta da casa
em noite de inverno

mulher sonho ainda
com esse momento
quem chegar à minha porta
vai mamar
desejo ser mãe
daqueles que não a tiveram
tenho tanto leite
sei que existe tanta fome

Lena Monstro

Dois corações
uma cabeça
e cinco bucetas

Mas ela tem cintura fina*

Notas orientais

chuva lavou
e não levou
que cheiro esse teu
cheio de teimosia

Ingleses

ford com lord
pra ver
have a nice day
ele vai te dizer

Rápida

sem tempo
tempo sem poesia

Dedos

pai de todos
fura bolo
já é bom
mas com o vizinho junto
oh,se é !

Sonoplastia

Barulho de sexo:

bater clara em neve

à mão

Dentro e ao longe

gaitinha de boca
ele tocava no centro
lindo
beijava a danada
e ela cantava
me toca assim
pensei
passando
em passos apressados
logo
música ao longe
e
coração entre as pernas
fantasiando voltar
e convidar
para música perto

Rascunho *

minha folha úmida
lápis não risca
o desenho de tuas linhas

memória dorme
se enrosca e lambe
tua virilha alecrim

nuvens correm
roubam
teu cheiro
tuas curvas
a Lua sorri
Cheia de ti

fico aqui
salsa e só

Domingo - rascunho

chuva nas costas
gripe no sofá
horas e horas
dessa vez nem vi passar
coxas febris
chá de carinho
sonhos rápidos
tossem os delírios
escorrem os desejos

P.F

dois nós
um
em cada anca
para não cair em joelhos
a calcinha larga
de uma renda sofrida
miserável e bonita

de quatro
em quatro
gemia
foi mulher de barriga vazia

Praga da Joseja

Eu segurava o mastro verde
corria
cabelos ao sol
e na ponta da taquara
arqueava pela estrada
as regras da Joseja
Que nojo
olhava o pássaro vermelho
ele riscava o céu
Que vôo

Ao longe ela me via chegar
gritava,a Josefa
ecos me confundiam
a velha figueira sorria com suas barbas
eu ia apanhar

Sim,varadas nas pernas
pássaros vermelhos não podem voar
aprendi
vergonhas rastejam

Num afago de irmã
depois do meu choro
me deu café sem pires
sem colher
adocei com a ponta da rosca de polvilho
fazendo redemoinho
sem desconfiar
que moça sem pires não casa !
foi praga ! praga da Josefa !

Cashemere Bouquet

ignoro os modos eretos
sutileza dos gestos
ventre delgado
beleza da plástica
pose de anjos nas abóbadas ricas
santas preces
joelhos de missa

minha sede me faz deselegante
laica e louca
escuto ventanias de súplicas
tua respiração ( que morra !)

chupo a ponta do teu coração
o amor vem assim
galopando em quentes nuvens

e não pretendo limpar a boca

Imagem

enquanto pau é pau
buceta é boca sorridente

Lembracinhas

plastico bolha
e
milhões de coisas para esquecer
o o o o o o o o o o o o o o o o o
o o     o o o o o o   o o o o o o  o
o o o o   o o o o o o o         o o o
o o o o o o o o     o o o o o o o o

o              o o o o o o o o o o o o
o o o o o o o o o o        o o o o o
o o o o o o o o o o o o o o o o o

Na parede

eu arrepio de medo
não bastasse os rabos frenéticos
ventosas nos vidros
elas namoram
se avançam
ouço ruídos
lagartixas 69
até elas
frias que só
fumam cigarrinhos penduradas nas paredes
e desconfio que riem do meu rabo intacto
os delas estão aos pedaços
coisas da guerra
a paz dessas minhas noites me faz louca
brancas noites
brancas
lagartixas desgraçadas

Prece

 Perdiz do vovô
 ele sempre me dizia
 e que colo alto !
 vontade de gritar
 me escuta,vô !
 sou a tua perdiz-perdida
 sem teu colo
 sem ninguém
 seja meu anjo e diabo
 de onde tu estiver
 ainda sou pequena

Como ela é

a dança dela
como os lírios dos livros
dá forma às rendas mágicas
sedas macias
o mundo gira com a pressa dos sonhos
a suavidade da vontade de ser
sempre leve

mas a bailarina acorda ainda arrumando a saia
ouvindo sua mãe gritar
com aqueles gritos de mãe-arroz-no-fogo:
Um real de cebolas !

Categoria IV

Bondade com amigos,bondage não.

Espelho

Testa de filósofo
pára-raios de beijos estúpidos
varanda para meu queixo Noel Rosa
o resto é útero

Que penas

o amor deveria morrer como passarinho
não com esse estardalhaço todo
e olha que não te acho qualquer pardal

Mantra perdido

"Beija no cú" - diz-se ao pressentir mau olhado e inveja.

Belo gozo

os braços dela são abraços
o que são os lábios senão pássaros ?
revoadas inteiras no meu céu

On Egin !

vitrines e ofertas no carnaval
fricções instantâneas
é como comer ração
fólicos
calóricos
saturados
sem graça nenhuma
a mesma forma sem surpresas


comer bem
sentir
demorar na boca sem pressa
gostos diferentes
dos diferentes pedacinhos
a crocância e pimenta de tuas coisas
assim que eu gosto e te gosto

ração é pra cachorro

Amor de Perdição

Foi Camilo,mamilo,Castelo Branco
que fudeu minha cabeça
eu cresci imaginando as tais espáduas
pra mim eram asas de mulher Teresa
que num vento mínimo
sopravam ares do amor
que o outro sentia
mas não podia
lágrimas no porto
eu li isso tão menina
e parece que foi ontem

Tu

Covardemente cheiroso e xadrez.

Olhos públicos do Mercado

cortinas de macelas e linguiças
cheirinho verde
do bom
ladrilho hidráulico
como gosto de atravessar pelo velho mercado
vejo os olhos dos peixes
tenho os meus iguais
olhos mortos,de gente fisgada
também não era tua hora,pobre Corvina ?
nunca é
somente de ir para casa

antes um sorriso caridoso
para o moço que paleteia
com graça
a desgraça de um porquinho
roupa manchada
sangue do ofício
(sorrio mais ainda,por fora mesmo)
ele me amaria menstruada !

Momento virgem

Cruzar as pernas para não cruzar
se adianta ?
tenta
pelo menos a pose é digna

Pincelada

É de um verde-saudade incrível, a cor dessas coisas.

Tudo pela ciência

Formiga de coroa
ganha bolo na boca
ri
riso de formiga
do macho que morre
macho alado
que sucumbe no ar
depois do sexo doce

do outro lado do vidro
grandes olhos
observação científica do moço
que na verdade fornece o bolo
pra ver foder e morrer
as sábias formigas

Homem grande

Tuas costas
convidam
rabiscaria naquela infinidade tua
mapas possíveis
penínsulas só nossas
escritos e mantras
caminhos de lesmas
minha língua
Meus dedos
pássaros que roçam
e tocam
até alçarem vôo
da tua pele moura

naquele quase dormir
parecido com sonhar
te deixo
e ao acordar,meu amor
sentirás :
recém pássaros aqui !

Pinhole

Não importa
quais dobradas eu faça por aí
nas madrugadas
que parecem sempre finais de tarde
nas esquinas de pessoas que me interessam
de bocas que me beijam
com permissão
não importa
a foto final é a mesma
de todas as madrugadas
Eu
tomando café com leite
impunemente
na casa que moro
e acordo
às vezes

28/01

Saudades eternas !
 ....dor sem fim - amor também.
             Hoje seria dia de muitos abraços.Mas,ficam meus gritos por ti ! Esteja bem ! Te amo pra sempre.

Página 36

eu era a Lucíola
de Alencar
imenso prazer da dança
nua
êxtase do exibir

Aurora

Deusa Romana empresta teu nome
e de teu filho
Mas não é Boreal
Nossa Aurora foi Austral
Sul
Sul de nossos desejos
Não pude deixar para depois
Ainda estou lambuzada
com os primeiros raios dessa manhã

Sexo

Metáforas metem muito

Lembra ?

Daquele sonho teu
S
C
H
E
I
L
E
R
na torre da igreja
preto e branco
o balão subia
tu lia sem acreditar
como podia ?
nossos nomes são quase iguais

Ficou escrito lá
pra gente deitar na grama e enxergar

Seja o que foi
Foi bonito

É dele

O teu está aqui
só pra separar do outro
abaixo
cada coisa em seu lugar

O teu está aqui
(esperando teus sinais)

Prefiro ser inspirada por ti
desejo cansar de lembrar
bem devegar
como teus passos ...

E só

Falsos são estes versos
de uma possível poesia
mas de uma verdadeira
inspiração

Menino bonito

Previsões 2010

Vênus regendo
mais gente gemendo

Em suma !

Margarida Russa

Bem-me-quer
Mal-me-quer

O meu eu-cadela

Mamicas penduradas
olhos quase tristes
ainda brilhantes
ainda loucos
Distraídos
ora acordados pelos
cinco ou seis
lindos cachorrinhos
que mamam sem dó
São belos os sonhos
da cadela