Monday, May 29, 2006

Os patinhos brancos

"Seu avental sujo de ovo...blábláblá" - Impossível lembrar do resto da letra desta musiquinha cantarolada pela minha prima em época remotíssima em circustâncias.Onde éramos menininhas vestidas com capricho em adornos e gomas. A única coisa que mudava entre nossas roupas era a cor.O modelo era sempre o mesmo, o tamanho do xadrez do casaco também.As cores dela sempre tendiam à feminilidade.Já as minhas, tendiam ao caos das descombinações.Minha mãe não media esforços para que eu ficasse parecida com minha priminha. Minha tia exigia que pelo menos a cor fosse diferente !
Mas não era isso que eu estava pensando em falar. A musiquinha que citei anteriormente, foi o que absorvi da minha parente de casaco feminino e xadrez.Ela remetia essa música à idealização da figura materna.Logo, minha mãe também passou a ser vista como uma camponesa gordinha e estabanada, com o avental sujo e fedorento de ovo....com patinhos brancos ao seu redor.
Isso servia como argumento para que eu absolvesse-a de todos seus ataques de fúria, palavrões endereçados a minha pessoinha.Pois imaginava a pobre mãe, caindo com um cesto de ovos, depois de tropeçar no vai-e-vém do vira-lata...e " seu avental todo sujo de ovo"..Isso porque nesta época eu não sabia o que era fazer pão.E muito menos que pra fazer pão usava-se ovos e avental.Minha prima que era mais esperta, via uma mãe padeira.Eu eu via...bem, já falei.
A paisagem interiorana, de patinhos bonitinhos foi me acenando de longe um adeus definitivo. Vi minha mãe cada dia mais urbana.Mais magra e bonita.Habilidosa com as coisas.Resiliente aos acontecimentos devastadores que jamais encontraria equivalente no meio do mato.De fato, ela sempre viveu nesta enorme cidade, com todas as suas coisas e dores. Eu é que imaginei demais.E desde lá, o que imagino é pesadelo.Prefiro ao mundo real, urbano ou rural...

Wednesday, May 24, 2006

Encontro

"Encontrei o Diabo na esquina ...noite dessas. Não queria perder a chance de vender minha alma.Mas perdi ! Ele apenas queria comprar um ácido forte.Saímos de mãos dadas como velhos amigos.Contamos estórias mil , gargalhamos pelas ruas. Espetamos cachorros de rua com seu tridente afiado.Sua capa envolveu meu corpo que estava gelado pelo frio da madrugada.E seu hálito,baby,ah...era ótimo !!!"

Tuesday, May 16, 2006

Thursday, May 11, 2006

Mãe mamífera

Mãe Mamífera

Não posso falar do amor de mãe de jacarés, polvos ou cigarras.
Entendo a amplitude do amor de uma mãe cadela , mãe leoa, mãe morcega, mãe felina....entre outras que oferecem seu seio para os filhos amados.Fazendo com que seja um momento encantado,de doação,dedicação.Um momento onde a esperança torna-se líquida, descendo pelas glândulas mamárias.Temperando as primeiras sensações gustativas.Saciando uma de nossas primeiras inquietudes.Estar perto dela é estar num céu de nuvens leitosas, estrelas brilhantes.
Tenho filhas mamíferas.Que serão mães um dia, podendo enxergar melhor quem sou.Assim como enxergo melhor minha mãe hoje.
Quem eu amo mama em mim e pra sempre !

Tuesday, May 09, 2006

Willie Dixon

Litlle Red Rooster

Canção de Willie Dixon em versão totalmente literal. Um blues que ficou engraçadinho não deixando de ser penetrante. Tudo maravilhoso.Todos meus pedidos foram atendidos.Até aqueles que não passavam de desejos malucos.
Esta noite será remontada, homenageada....por muito tempo.Ou pelo tempo que restar.

Sunday, May 07, 2006

...

Medéia desesperada ! Agora sem mobílias, sem roupas ou sabonetes. Jogou tudo pela janela.E o vento não pode trazer de volta as únicas coisas que lhe restavam.
Três dias sem comer. Esquelética criatura que seduz sua curvilínea sombra projetada na parede.Sedução que é absolutamente correspondida.A sombra a segue,sempre...Basta uma vela estar com o pavio em chamas.
Não existe mais ninguém que possa tocar seu interfone e salvá-la desta triste dança.
Acho que ela nem tem essa esperança. Apenas deixa que os dias cumpram seu ritual de chegada e partida, levando a cada dia um pouco da Medéia aflita.

Friday, May 05, 2006

Set

O cheiro era de cera em pasta.O cenário era mágico.Uma maçã verde em posição estratégica fazia com que o quadro pintado com as sete carinhas, ficasse harmonioso.Elaborei uma legenda para cada sorriso.Será uma forma de agradecer ao incentivo dado à uma menina sem expectativas pra semana que começava e que saiu com mais uma nova paixão embaixo dos braços : velho sonhos embrulhados em jornal ainda mais velho.
Gustavo : menino pequeno, tímido e "delirantemente feliz". Um puta batalhador..
Valentina : tinha uma visão romanceada das coisas. Uma ingenuidade sem disfarces.Um rosto lindo.
Taís : seguramente a mais falante, a mais corajosa. E nunca ficou pelada nas peças da Terreira da Tribo.
Érico : simpatizei desde que o vi.Sorriso tri sincero. Um ser indignado.Pai de gêmeos.Monstros S.A.
Beto : Gestos e trejeitos pra ilustrar tudo que sabe.E como sabe esse Beto ...
Ana : Dona da casa que tinha um ataúde no sótão, dona de uma voz meiga e olhos fortuitos.Acho que dona do Beto ..( não disse que sabe muito esse Beto ?).
Pedro : Putz ! quanta alegria numa pessoa ! Entusiasta até as cuecas. Pai da Juliete.E posso dizer que foi a pessoa que me disse a coisa mais agradável desses últimos dias.Senão a mais agradável, a mais propícia.
Deixo que imaginem que isso foi uma renião espírita ou uma orgia de deprimidos ...
E o roteiro não pára !

Thursday, May 04, 2006

As fendas

O Homem que pediu para que eu segurasse a porta do prédio para que ele passasse com seu corpo redondo e mãos ocupadas, foi o mesmo que vi, sem intenção de ter visto, enrolado numa toalha desproporcional à sua circunferência.Onde ? Passando distraído em frente à sua janela desnuda de cortina.
A minha janela estava vestida, eu que estava desnuda de bons pensamentos.Ficando imóvel diante da fenda que o tecido fazia.
Nunca gostei dos gordos, mas também nunca tinha visto um sequer, sem roupas. Aquela pequena toalha estava no lugar errado. Fazendo com que eu apenas imaginasse. E eu não queria imaginar.
Ele volta fresco do banho, com as aquelas gotinhas nas costas que os homens teimam em não secar pra prolongar a brisa do banho..
Foi esticar a toalha !
( As fendas dançam como nunca....)
Volta com um cortador de unhas na mão.
De cueca.
Não foi dessa vez !
Nenhum gordo pelado.
Apenas uma criatura com pernas em posição de asas de borboletas, sentado no sofá, lutando contra a resistência que as unhas grossas dos seus pés opunham ao cintilante cortador de metal. Indiferente ao rumo que as lascas amareladas tomavam, ele continuava.
Não pude deixar de lembrar da fenda dançando cadenciada pela minha respiração ofegante, exilada ! À espera de uma novidade.E de quando segurei a porta para aquela criatura que trazia em seus braços, o fardamento de um jogo de futebol , incluindo a bola.
Não gosto dos gordos, nem de homens que amam futebol. Mas assim, as fendas dançam ! Pra não dizer que apenas dançaram. Sim, elas continuam dançando e revelando aos poucos um pedaço do meu nariz, olhos e daqui uns dias, toda minha grande cara de pau.

Monday, May 01, 2006

Culto a Dionísio

Hoje a noite será de Dionísio.
Amor,venereção,dança,sexo,êxtase.
Cor tinta, seco gole.
Aromático,redondo, etílico : vinho !
Vaidade,paixão.Um deus tão humano quanto suas falhas.
Olimpia não vai atender ao telefone.
Dionísio,Dionísio : filho da puta !