Friday, May 28, 2010

em vermelho boi avança
fura a barriga
atira pra cima
assim morrem crianças

minha blusa e sua flor
chamando o touro para a briga
eu,distraída
não vi saída
senão ficar sem roupa
correndo nua

a cada passo
mais longe dele
o horizonte mais perto
quase toco com meus dedos..
e num golpe dessa vida
no início dela
minha lápide
me parou de joelhos no chão
olhos fechados
entre medo e lágrimas
enchi a mão
com os cabelos verdes da terra
provei do amor bruto
em chão sereno

nessa pedra
sento hoje
pra não esquecer do horizonte
que com fúria persegui

Saturday, May 22, 2010

Bem-vinda

devagar é minha marcha pra casa
mangalarga
ereta e forte
só para ida

na volta
dobras da cama são frias
algodão e poliéster
me esperam há dois dias

o microondas reverbera
os 45 segundos
chá de sonhar rápido
e eu,maçanilha
que já escutei sinos
noutras madrugadas

Saturday, May 08, 2010

Último almoço

casa da mãe
manhã em seu fim
báu
cupim
eu sonhando em cima

cortina da janela
varrendo meu umbigo
de sete em sete tempos

encontrei Nero
montado num cavalo de bico
crista e penas

o assoalho rangeu forte
minha mãe caiu morta
saltei do baú
alisei seus cabelos
ela também sonhava meu sonho
do Nero roubou-lhes os louros da coroa
e também o cavalo com penas brancas

partiu assim
perfumando a casa
deixando no fogo
galo com louro