Thursday, May 04, 2006

As fendas

O Homem que pediu para que eu segurasse a porta do prédio para que ele passasse com seu corpo redondo e mãos ocupadas, foi o mesmo que vi, sem intenção de ter visto, enrolado numa toalha desproporcional à sua circunferência.Onde ? Passando distraído em frente à sua janela desnuda de cortina.
A minha janela estava vestida, eu que estava desnuda de bons pensamentos.Ficando imóvel diante da fenda que o tecido fazia.
Nunca gostei dos gordos, mas também nunca tinha visto um sequer, sem roupas. Aquela pequena toalha estava no lugar errado. Fazendo com que eu apenas imaginasse. E eu não queria imaginar.
Ele volta fresco do banho, com as aquelas gotinhas nas costas que os homens teimam em não secar pra prolongar a brisa do banho..
Foi esticar a toalha !
( As fendas dançam como nunca....)
Volta com um cortador de unhas na mão.
De cueca.
Não foi dessa vez !
Nenhum gordo pelado.
Apenas uma criatura com pernas em posição de asas de borboletas, sentado no sofá, lutando contra a resistência que as unhas grossas dos seus pés opunham ao cintilante cortador de metal. Indiferente ao rumo que as lascas amareladas tomavam, ele continuava.
Não pude deixar de lembrar da fenda dançando cadenciada pela minha respiração ofegante, exilada ! À espera de uma novidade.E de quando segurei a porta para aquela criatura que trazia em seus braços, o fardamento de um jogo de futebol , incluindo a bola.
Não gosto dos gordos, nem de homens que amam futebol. Mas assim, as fendas dançam ! Pra não dizer que apenas dançaram. Sim, elas continuam dançando e revelando aos poucos um pedaço do meu nariz, olhos e daqui uns dias, toda minha grande cara de pau.

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