Tuesday, November 07, 2006

ensaio

Pelas frestas da parede entram ventos que gelam toda a casa.A cozinha é último refúgio.A lenha queima e esquenta a chapa do fogão,imprimindo o cheiro de esconderijo nos longos cabelos das moças.
Este ano o inverno chegou mais cedo, surpreendendo aos maricás que tardaram a florada e às agulhas apressadas que costuraram roupas quentes, ponchos de lã, calças para os pequenos.Era preciso prover e logo os agasalhos para os homens que saiam para o campo, para o pai que seguia para Torres toda a semana.
Vovó Serafina viria tão logo tratasse dos bichos .Ela sempre vinha após de ter feito sua tarefa diária.Descia da chapada todos os dias , desde que sua comadre se fora.Ajudava as moças na lida , com a doença da Teresa, nas carneações, nas costuras apressadas.Ela alegrava ,trazia da sua casa que ficava na chapada do morro, além de uma respiração cansada, sorriso e carinhos para as moças e pequenos que alí viviam sem a mãe.Dona Josefa.
Teresa respondia de dentro do quarto ao que a Vovó Serafina perguntava.As respostas eram exclusivas para ela e para a alma , forçosamente penada,de Dona Josefa.Desde a morte da mãe, a mais bonita das filhas caiu em fraqueza e delírios.Passava dias inteiros conversando com a mãe morta, que agora era um vestido de chita guardado no baú do quarto.As outras irmãs levavam comida, abriam a janela do quarto, mas tinham medo dela.Tinham medo do corredor que alongava o caminho para o quarto da insone delirente, pois desde os primeiros passos se ouvia a conversa das duas.As mais novas espiavam pelas frestas da parede, pelo lado de fora.Assustadas, sempre corriam ao simples cair de uma laranja azeda do quintal.
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